"Virtual é tudo aquilo que não é palpável. É, geralmente alguma abstração de algo real".

Assim começarei meu pensamento que, só em uma frase, já se dilui e livra-se de qualquer conceito pré-estabelecido.
A abstração que irei enfocar aqui será a cotidiana (pelo menos para mim), aquela da qual nos apropriamos na virtualidade, ou seja, na irrealidade material e ainda assim no permite um posicionamento , vivermos inseridos de forma ilimitada embora percebida e muitas das vezes aprofundada. O virtual é, portanto, considerado uma categoria tão verdadeira quanto o real, ou seja, a abstração existe e carrega uma potência que pode não ser palpável, física, mas sim de uma simulação e isso já basta para entendermos paralelismos ou "matrix".
Pesquisando sobre a virtualidade encontrei esta citação sobre Suzanne Langer, uma filósofa da música, que descreveu concepções de virtual no livro Sentimento e Forma, publicado originalmente nos anos 1950: para ela, olhando um quadro figurativo criaríamos em nossas mentes um "mundo virtual". Um quadro de paisagem criaria aquela paisagem em nossa mente. Este tipo de operação mental (representações em nossa mente causadas por fenômenos externos) foi explicado por Charles Sanders Peirce há mais de cem anos, ao definir a Semiótica como a ciência dos signos. Para ele, signo é algo que está no lugar de outra coisa, representando algo para alguém. Um quadro de paisagem estaria no lugar da paisagem real, por exemplo. Representaria a paisagem, seria um signo icônico dela.
Nesta contextualização podemos usufruir da liberdade da abstração a níveis inifinitos, entre fenômenos do universo e paradigmas dos generalismos teóricos, mesmo quando nos utilizamos de elementos concretos que se constituem no raciocínio lógic e concluirmos que a abstração parte prioritariamente da interpretação de cada um, tratando-se de um processo mental muito pessoal e que nem sempre está ligada à criação mas a criação está sempre ligada à abstração, sendo assim sua dependente.Abstração pode ser vista ainda como uma alteração de identidade, um deslocamento ou subtração de detalhes. Seria a capacidade de expressar algo de maneira concisa mas sem que os detalhes fiquem a mostra. Fato complexo e de fundamental importância nas mais altas esferas do conhecimento. Talvez por isso, a tecnologia traduza tão bem seu significado através da externalização de construções mentais em espaços de interação cibernéticos, nos permitindo vivenciar um outro mundo, imaginário, fantasioso, desejável ou não.
Nos dias atuais, são muitas as situações em que nos vemos condicionados à utilização da virtualidade sem nos darmos conta da liberdade ofertada em prol de um imaginário singular, muitas vezes caracterizado pela total abstração, que é ainda é considerada por muitos como apenas um estilo de arte não figurativa.
Na prática, o simples fato de passarmos uma tarde, em frente a um computador raciocinando, visualizando, criando em suportes ou softwares, já é um ato abstrato que pode demonstrar o nível de transmutação do homem em relação a ícones e padrões de um sistema.

Concluo aqui, este texto, ressaltando a importância da observação mais contundente sobre as possibilidades do cotidiano em suas formas criativas e funcionais, oriundas dos novos meios e visões/ abstrações particulares que se propagam coletivamente e em redes.

May


A desconstrução/ reconstrução é, sem dúvida, fator ímpar para a continuidade de uma cultura. Não há como manter viva uma idéia sem que a mesma esteja sempre sendo revista, discutida. Se não é registrada e, vez por outra, visitada e instigada por novos conceitos acaba sendo extinta ou substituída por outra divergente. O importante é, portanto, o aprimoramento de uma matriz e não o descartar totalmente para que surja algo melhor. Devemos sempre partir de algum princípio já existente para decompor, formatar, recombinar e seguir na evolução, seguindo a ordem natural de agregar e não segregar. As mudanças benéficas nas mais diversas áreas ocorrem após períodos muitas das vezes considerados críticos para que, se adeque e reestabeleça dentro de um contexto. Sendo valorizado pela sua historicidade mas com poderes alquímicos, capazes de evolução e suporte ao homem moderno diante das novas realidades e necessidades.


A narrativa constituida por novos conceitos menos conservadores, dispostos a atualizações constantes com base na decomposição das formas, cores, temas, técnicas só podia ser benéfica para a condução das artes. A visão macro perde lugar para os detalhes; as transformações possíveis pertinentes à imaginação humana vêm à tona com a desveiculação com certos rigores ortodoxos; a inclusão de novas linhas de trabalho e pesquisa propiciaram novos meios e fins. Fragmentar é como clarear pontos escuros, pois, ao destacar alguns, pode-se tecer fios condutores a níveis desconhecidos do pensamento e da sua expressão. É preciso aprender a lidar com o novo ou oposto sempre, esteja ele ordenado ou não. Transmutar sentimentos em novos plataformas, certamente mexeu demais com as regras existentes que não aceitavam perder o controle de uma época e uma sociedade estigmatizada mas hoje podemos apreciar essa evolução com clareza e nos permitir "upgrades" diários.


O termo distorcer está intrinsecamente ligado ao modo com vemos algo ou alguma situação e a partir daí, desenvolvemos sua representação para exteriorizar este sentimento. Ou seja, podemos representá-lo como quisermos, é a nossa visão pessoal e única, seja ela realística ou fantasmagórica.

Com esse sentido, imaginando a importância que os movimentos artísticos tiveram sobre a evolução humana, podemos afirmar que muitas das modificações dos conceitos e comportamentos foram alterados por conta destas interpretações.
A quebra dos tabus, dos limites e regras impostas sempre estiveram associadas ao poder cultural de um povo e a arte, quando coesa, interfere diretamente sobre suas atitudes.
O posicionamento do homem em relação ao mundo muda todo dia, uma constante variável e imprescindível.

Cada artista com seu ponto vista, suas influências diretas, suas ideologias e penetração na mídia interferindo a cada minuto nas mentes alheias é o fio condutor com para a modernização e consequente distorção, tão compreensivel desde o impressionismo, que tentanta fugir dos padrões, buscar sua própria matiz e momento único; passando pelo expressionismo, que mesmo subjetivo, era pura emoção até chegar ao raciocínio cubista, onde podia-se esperar imagens multifacetadas e com inserção de novos elementos e materiais, ou seja, toda uma trilha lógica caminhando para uma ruptura fatal, um desligamento total da realidade para um universo paralelo onde não importa o belo, o harmônico mas sim os valores verdadeiros perpassados pelas circunstâncias do mundo atual.
E ainda, sem ser tão pessimista, esta relação com bons fundamentos pode gerar diretrizes e novos rumos para a humanidade.

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Andrea May é artista urbana, ativista cultural, vocalista e compositora.